de Charles Baudelaire, do livro O ESPLIM DE PARIS: PEQUENOS POEMAS EM PROSA
Quero representar uma diversão inocente. Há poucos divertimentos que não sejam culpáveis!
Quando você sair, de manhã, com a firme intensão de flanar pelas grandes estradas, encha seus bolsos de bugigangas de um vintém, tais como o tosco palhaço movido por um só fio, os ferreiros que martelam a bigorna, o cavaleiro e seu cavalo cujo rabo é um apito, a ao longo das bodegas, ao pé das árvores, dê-as de presente às crianças desconhecidas e pobres que encontrar. Você verá seus olhos se abrirem desmesuradamente. A princípio, nem se atreverão a pegar o presente, duvidando da sua felicidade. Depois suas mãos o agarrarão vivamente, e, correndo, elas irão embora como fazem os gatos que, tendo aprendido a desconfiar do homem, vão comer longe de você o pedaço que lhes der.
Numa estrada, atrás da cerca de um vasto jardim, no fundo do qual se avistava o alvor de um belo palacete ensolarado, estava um menino lindo, que emanava frescor, usando aquelas roupas de veraneio tão cheias de garridice. O luxo, a indolência e o espetáculo habitual da riqueza tornam esses meninos tão lindos que eles nem parecem feitos da mesma massa que as crianças da mediana ou da pobreza.
Ao lado dele, jazia na grama um boneco esplêndido, tão fresco quanto seu dono, brilhante, dourado, vestido de um traje purpúreo e recoberto de plumas e miçangas. Mas o menino não se preocupava com seu brinquedo preferido, e eis o que ele mirava: do lado oposto da cerca, na estrada, entre os cardos e as urtigas, havia outro menino, sujo, mofino, fuliginoso, um daqueles párias mirins cuja beleza seria descoberta.
Por um olho imparcial, se – como o olho do conhecedor adivinha um quadro ideal sob o verniz de pinta-monos – ele o limpasse da repugnante pátina da miséria.
Através dessas grades simbólicas separando dois mundos, a grande estrada e o palacete, o menino pobre mostrava ao rico seu próprio brinquedo, que o outro examinava avidamente, como uma coisa rara e desconhecida. Pois esse brinquedo com que o menino sujo bulia, sacudindo-o numa gaiola, era uma ratazana viva! Os pais – sem dúvida, para economizar – haviam tirado o brinquedo da vida mesma.
E os dois meninos riam-se um para o outro fraternamente, com os dentes de igual brancura.
No BRASIL:
- Ontem mais um homem negro, José Alberto Silveira Freitas, foi espancado até a morte.
- A cada 20 minutos uma menina é estuprada.
- Em seis meses o número de moradores de rua em São Paulo cresceu 65%.
- Antes de completar 15 anos uma criança preta tem três vezes mais chances de ser morta que uma criança branca.
Boa noite! Gostaria de saber a referência da penúltima imagem. Obrigada.