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Foto do escritorGandhy Piorski

Auspiciu de voo no brincar

Atualizado: 18 de nov. de 2020

Ilustração: Cuca Almeida

Nestes já findos dias de setembro, quando ainda ventos sopram copas, arrancando-lhes as flores e sementes de tão leves voos, quero vos lembrar nesta breve carta, de coisas guardadas no olhar das crianças. Quero lembrar-vos apenas para que não duvidem mais saber.


Quero, com estas palavras, apenas inspirações de pouso e rotas de voos. Rotas de asas desenhadoras de ar. Imagino colocar um finíssimo pincel nas pontas das asas de um passarinho e esperar que suas piruetas de nados no ar, neste oceano de ar, traduzam um impressionismo da liberdade. Um impressionismo dos sonhos mais livres.


Passarinho não poderia um expressionista ser. Não é dado à existência, ao encarnamento dos sentimentos. Passarinho é mais o ar livre de Renoir. Dado aos pictóricos das sombras que não se fazem nos pretos da paleta, mas nos traços luminosos e claros instruídos aos pintores do ar livre. Sombras quase nunca pretas, mas nascidas nos dourados e resquícios azuis do violeta. Pois das asas incidem as predominâncias da clara luz. Do voo nascem as mais prodigiosas insinuações de se elevar. Já observaram? Já viram como algumas crianças, meninos, não sossegam de admirar, de buscar, de caçar tanta luminosidade?

Duvido que menino caçador de passarinho só queira o bichinho. Suspeito, com forte tendência à convicção, que o menino com sua arapuca, seja mais um buscador da luz, um pintor de pouquíssimos contrastes, um sonhador do douro azul. Não poderia reduzir a gaiola apenas à maldade de prender. Comparo, por vezes, a gaiola do menino à moldura do pintor de relvas e fontes, copioso das luzes no ar.


Entretanto, a todos vocês, quero melhor me explicar. Para que investiguemos com cuidado os desejos de asas nas crianças, devemos aspirar não somente a matéria do ar, nem apenas a luz de fora, solar. Não é uma questão de vasculhar a matéria do oxigênio, nem as propriedades prísmicas do espectro ocular; é uma questão de investigarmos a luz.


Para iniciarmos neste entendimento vos ofereço Jacob Boheme: “Mas agora reflete: de onde vem o matiz no qual a nobre vida se eleva, de tal modo que, de adstringente, de amarga e de ígnea, ela se torne doce? Não encontrarás outras causas senão a luz. Mas de onde vem a luz para brilhar assim num corpo tenebroso? Falas do brilho do sol? Mas que é que brilha então na noite e dirige teus pensamentos e tua inteligência, de modo que vejas com os olhos fechados e saibas o que fazes?”


Qual segredo da luz se esconde na cobiça do menino pelas asas do passarinho? Este segredo está no voo aberto, no vento, no céu, na largura de horizontes? Ou na liberdade que açoita ventos em campos de girassóis no interior da criança? Caçar criaturinhas do voo é apenas uma curiosidade pela mecânica dos corpos a flutuar, das asas do bichinho que luta em desespero pela fuga? Ou uma quase obsessiva busca pela luminosa, clarificada suspensão de seus sonhos e desejos de a si alargar, clarear?


Afirmo: não é possível examinarmos a suspensão no brincar, as brincadeiras do voo, se não for pela luz.


Mesmo o voo noturno é agudíssimo à luz. Luz das estrelas, da lua, do brilho no mar. O menino conhecedor dos passarinhos da noite tem olhos sensíveis ao prata das penas, ao brilho e reflexo de seu olhar. Por outra, menino caçador das asas diurnas é sensível aos pigmentos, aos tons tão diversos de canelinhas cor de grafite, bicos vermelhos, cristas rubras, penas cintilantes, tons desses surpreendentes seres que fazem as cores flutuarem.


Mas observem, observem bem, essa luz que encanta o olhar, esse cintilamento, é só o mais superficial impulso da busca. Há o intento axial como nos diz Boheme, aquele que se mostra em nossos olhos fechados. Assim, aos que até agora me acompanham, digo: menino e passarinho é metáfora de acendimentos. Verticais e cintilantes acendimentos. Ascensões cardíacas. Pois a luz do voo é das campinas da alma, da esperança imaginal.


Precisemos aqui, marquemos já: é da luz a substância aérea do brincar. Isso é um primeiro chão, um lugar em que pousamos para examinar. Mas que agora devemos seguir encontrando esta luz por todo o sonho do menino. Esta luz que o vincula, como nos diria Giordano Bruno (em seu tratado sobre o vínculo), ao corpo do passarinho. Pois é de uma das propriedades do vínculo penetrar pelos sentidos até de todo o outro se apossar. E os sentidos do menino, no passarinho, se comovem e se deixam dominar. O ouvido logo é seduzido pela larga espacialidade, ecoada, do fino canto. A visão maravilhada pela flutuação de cores. O tato delicado, que permite a captura num só apalpo, leve e firme, fixa as asas, as piruetas do voo. Não são todos os meninos que tem tato para tirar o bichinho da armadilha. Que conseguem trazer à mão as plumas destas criaturas, esses auspícios de alturas!


Lembram-se do latim? Dessa língua de chaves? Pois bem, Auspiciu é uma palavra dizendo que são as aves quem vem anunciar. Menino de passarinhagens quer auspiciu da luz, premonição das planuras, venturas do céu, agouros e açoites do mistério, serviço de natureza oracular. Um além das imagens imaginadas, um dinamismo tal que a imaginação se volatiliza, perde total fixidez pictórica, extingue-se na luz, aparta-se de qualquer limite.


Sim, pois das substâncias materiais que alimentam a imaginação, o voo é a mais íntima narrativa da liberdade. A imaginação do menino que persegue o voo, que caça suas asas é quase ausente, livre de imagens. É um exercício de expansão, de extinção de imagens no campo da luz. Escoa para o infinito o brincar das asas. E é mesmo um brincar, pois poucos meninos são colecionadores de gaiolas. Os mais velhos sim, os adultos se fixam na fixidez do passarinho. Os menores amam mais as caças, capturas. Gostam muito de se armar de visgos. Alguns até criam, e se mostram no cantar de seus bichinhos. Mas logo se livram, trocam, soltam e reparam com atenção naquele dia em que dão liberdade novamente ao voar.

O dia em que o menino solta o passarinho preso! Que maravilhoso dia de livramento! Na alma do menino este é um dia inscrito. Por decisão própria solta o passarinho que ele próprio capturou. Cada gesto do bichinho nas vésperas da alforria, cada pressão de suas unhas fininhas nos dedos do menino, cada explosão de asas, tudo cinzela na memória que a liberdade precisa estar mais alta que o ser, voando, no ar. O desprentendido e altivo valor do liberto. O amor selvagem e simples do cativo pela possibilidade de alçar-se do chão.


Lembrei com isso – faço aqui uma pausa para um devaneio - de um amigo, um caboclo da montanha, coletor e vendedor de mel silvestre. Todas as vezes que paro na estrada para mais uma compra dessas substâncias nobres da floresta, substância aérea das abelhas, ele se despede de mim dizendo: Deus te dê livramento! Às vezes só lhe compro mel para ouvir essa bênção do ar, para cobrir-me de asas do livramento, de guarda angélica.


O menino e o passarinho tem uma pureza de filiação. Não é uma ingenuidade de filiação. Pois menino mata passarinho, derruba de uma pedrada veloz o miúdo de asas lá do alto da árvore. Depena, tira as entranhas e frita. Come com farinha. Acha saboroso. Pensa em novamente caçar. Mas a pureza que aqui sustento, caras pessoas, é da ordem dos cumes. Das coisas aéreas, de uma forma de sublimação (abertura ascensional) que está na imaginação do menino, na imaginação que trás em si informações, substâncias do ar.


Não é somente o voo real, externo, das asas e penas que inspira a busca do menino. Mas é a substância guardada, dentro, no centro da imaginação. A informação imaginária é quem acorda meninos para as amplitudes. O mais próximo arauto das alturas na vida do menino de natureza é o passarinho. Assim a imaginação faz do bichinho a matéria de se ampliar.


É uma espécie de propósito, de vínculo que a imaginação vê no passarinho. Este servirá de suporte, de vetor, para o ser do menino mais valores de alturas saber capturar. Valores que etéreos de imagens. De poucas imagens, pois o dinamismo do voo extingue as imagens. Ver do alto é ver o longe, é uma experiência de amplidão. Não é a toa que, dizem muitos meninos, comer o coração do beija flor melhora a pontaria. Comer a energia vital do mais veloz dos bichinhos é se apossar de sua visão do alto, de sua visão que quase não ver a imagem da flor, mas a luz que dela desprega, a cor da flor.


O menino que aprisiona o passarinho - desconfio com intuição de alvo - é aquele que não quer se fixar por muito tempo nas imagens do mundo. Menino de vigoroso dinamismo de imagens. É aquele que não quer a sala de aula, que não tolera paredes e carteiras, mesmo estando elas em círculo. Muitas crianças não toleram as paredes simbólicas do educar, muitas crianças agouram a vida escolar. Mas em algumas dessas, as mais especialistas, a imaginação incide como flecha para a vigor da luz. Exige, empurra, joga a criança a si alargar. Caçar passarinho é uma urgência de abertura. Passarinho vivo ou morto é estudo de expansão, é horizonte investigado, é experiência de visão oblíqua.


Deixo claro a vocês, caso atentos estejam ao sentir: não me divirto com a morte desses miudinhos de asas. Mas percebem o que quero dizer? Até mesmo abomino a perseguição irrequieta de meninos que não deixam passarinhos em paz. Passarinhos, digo com convicção, devem viver em paz. Sou mesmo admirador deste sanitarismo – como diria Nietzsche - budista: que todos os seres sejam livres e se libertem, que todos os seres sejam felizes! Mas não posso aderir à simples condenação sem deixar de ver o que há. De perceber o que instrui a imaginação dos meninos na caça, ou dos meninos no voo. Pois não encontrei meninas passarinheiras.


Tenho visto que voo é um campo vasto de brinquedos e brincadeiras. Mas passarinho e menino tem um teor de gravidade e urgência imaginal. Urgência da mais perspicaz necessidade de atar, apanhar, dominar o voo.


Assim, gosto de me perguntar: esta perspicácia devolverá ao menino, quando vitorioso em seu intento, quais imagens? Qual senso de vitória? Um justo senso? Uma equânime experiência do ar? Haverá um alargamento do ser pela instrução do passarinho ao alcance do menino? Ou uma fratura das compreensões e valores do livre voar? Haverá a nascença da esperança para um sentimento preso, trancafiado, enrijecido, pousado, visgado (do visgo das seivas) rente ao chão?


Digo então, talvez já criando uma rota de fuga: não me interesso tanto em responder essas questões. Perguntas assim gosto de deixá-las nascer, mas pouco me importo em responder. Impuseram-se, então as escrevi, estão aqui, ficam a ecoar, e quem sabe - pelo eco - sussurre a intuição.


Apenas de uma percepção de tais interrogações costumo me servir: quantas e quantas perguntas sobre a alma das crianças podemos fazer! Quantas coisas maravilhosas se soubéssemos acompanhar, sem julgar, poderíamos perceber no que mais interessa ao espírito de cada criança! Quão importante será encontrar, não nas respostas, mas nas perguntas (se as deixarmos nascer) o respeito à individualidade de cada criança!


Atemos ainda mais os laços dos verbos. Isto para que não nos escape a alma. Cacemos – na criança - a chama poética, para que não se dissipe nas vagas. Que ela seja instrutiva ao nosso pensar, rasante vital de nossa reflexão. Para que seja conselho de si a si próprio. Devemos deflagra-la e reconhecê-la móvel, dinâmica. Dinamismo semântico capaz de sonar nos ocos das correntes de ar.

Precisamente, especificamente quero dizer: o menino dos passarinhos é um menino especialista. Há muitos meninos e meninas (vocês as tem visto?), especialistas em tantas matérias e substâncias do brincar. Mas o menino de passarinhos tem a especialidade das asas. E a especialidade das asas revela interesse em expansão. Por qual mais vivo caminho o menino poderia conversar com as distâncias, com a solidão, com o sopro silente do ar? O pequeno caçador de passarinhos sabe do silêncio. É um ouvidor de cantos nas copas. O silêncio imposto à caça é um silêncio que impõe a paisagem, é uma audível presença do que compõe a floresta, o lugar. O que compõe aquele sistema de vidas, mas também o que compõe as imagens ajuntadas por todas as histórias ali, naquela geografia, narradas. Sejam histórias rasas, pueris ou fundas, fantásticas.


O silêncio imposto à caça do voo não é o mesmo silêncio do caçador de preás. O perseguidor dos preás está concentrado na substância do chão, o dos passarinhos quer a substância do ar. Pode até ser a mesma criança. Mas se hoje é passarinho, hoje a imaginação quer o ar. Em cada lugar das substâncias materiais há um lugar das substâncias imaginadas. Há um desejo de se infiltrar na intimidade transcendente daquela substancialidade. Pois imaginação é coisa do vir-a-ser, é esperança em quase tudo, inclusive nas substâncias materiais.

Deste modo podemos dizer que, o silêncio de capturas do ar é ânsia de a si próprio alçar. Ali naquele silêncio que aguarda o pouso, há o aguardo de uma substância. A ventura do pouso anuncia o cimo. Sabemos pelo sertão, pelas montanhas, beiras de mangue e mar, histórias de passarinhos e agouros.


Anúncios de passarinhos podem muito bem ser temores, cantigas de passarinhos podem revelar tempos propícios. Sei bem que já ouviram algumas dessas histórias de ornitólogos meninos. Mas quero aqui mais vivamente vos lembrar. Vejamos quantos e tantos jeitos de fazer desses bichinhos o anúncio do mistério.

Meus amigos, Dudu, Hernani, Davi, Jardel, Samuel, Anderson e alguns outros de montanhas onde vivem passarinhos, são desses meninos especialistas em voo. Por vezes fizemos rodas só de coisas das asas. Fizemos vendaval, inhanso (como diria Guimarães Rosa) de nomes de passarinhos. Outro dia, com o propósito de vos escrever, fiz mais uma dessas rodas com eles. Tempestade, açoite de assobios despencou naquele dia. Cada passarinho é um tom, cada menino é mais afim ao bico de um bichinho. Junto com o canto, os meninos assobiam e depois explicam, vem um anúncio. O Bem-te-vi é anunciando o bem em te ver. O Vem-vem intui a chegada de algo ou alguém. Os enamorados quando ouvem o Vem-vem logo se alegram, seu amor poderá chegar. Pode ser notícia boa ou ruim. A corujinha Caburé, chamada também de Rasga Mortalha, se cantar num voo por sobre a casa, algum parente morrerá. Quantas noites assustadoras, sem dormir, eu menino vivi quando uma dessas corujas cantava num sobrevoo de morte sobre minha casa!


Mas não é só do canto que vem o anúncio. Do gesto também. Ah que delicadeza é observar gesto de passarinho! O ninho do Beija flor feito na entrada da casa ou na janela do quarto é profecia de realização. Se algum menino matar o passarinho Lavadeira, que fica nas beiras dos açudes e córregos, será castigado, pois a lavadeira que, um dia, lavou as roupas do menino Jesus, ganhou, por milagre, a prenda de não morrer e virar passarinho. A Rolinha que visita uma casa é sinal de esperança. A tristeza de muitos lamentos de passarinhos, especialmente os das noites dos sertões, assustam com o desconhecido daquela anunciação. E por aí vai. Uma etnografia de crianças e passarinhos é de muitos ramos. Não nos percamos neles agora.


É certo que muitas dessas histórias de agouros e anúncios não nasceram da infância. Mas é certo também que as crianças do voo adotam-nas com convicção. Muitos até duvidam, mas precisará de muita ousadia para um desses caçadores de asas acertar um tiro de estilingue numa Lavadeirinha de beira de córrego.


Mas voltemos à chama poética. Naquele dia, na roda de assobios, brinquedos das asas, em poucos minutos, encarrilhados num só voo, choveu nome de passarinho: Andorinha, Beija-flor, Bem-te-vi, Sabiá, Rolinha, Vem-vem, Lavadeira, Papa-arroz, Bigodeiro, Bicudo, Jacú, Galo-campina, João-de-barro, periquito Papacú, Golinha, Anum, Graúna, Galo-flecha, Gatinha, Sibite, Sanhasú, Coruja, Bacurau, Papa-capim, Gavião, Carcará, Pombo, Pombinha do mangue, Azulão, Corrupião, Corrupião-preto, Alma-de-gato, Avoante...


Todos esses nomes tem um lugar no menino, ou meninos tem lugar em alguns nomes de passarinhos. Nomes que moram nos conteúdos, nas imagens da criança. Vivem como reservas de ampliação, de descolamento da gravidade social.


Contudo, já aqui, amigos de voo, quero vos provocar com uma derradeira proposição. Não teremos espaço, nesta carta aberta de asas, para mais tanto tempo de voo. Sim, pois ainda estamos nos voos ao alcance das vistas do menino. Nos voos de copas. Sabemos que voos de instâncias mais ousadas acompanham o brincar. Talvez não tão urgentes e agudos como a caça das asas. Mas certamente voos mais altos, dialogando com mais profícua imensidão, podem ser encontrados nas pipas. Mas pipa é outra coisa. Hoje somos ornitólogos do brincar. Quero com mais calma vos convidar para entrarmos num borboletário do brincar, e mais adiante vestir-nos de entomologistas (dos insetos de asas) ou botânicos (das flores que são hélices) do brincar.


Mas hoje, para passarinhos e meninos devemos DAR VENTURA ao nosso olhar. Aqui há a formulação clara de um drama: a caça.


O hábito, o paletó escolar imposto ao gênio de algumas crianças é quase sempre um claustro, um arrocho paralítico. A escola com suas imagens prontas, habituais, não percebe que está estraçalhando em pleno voo a força imaginante das crianças.


Esfolar a cabeça do passarinho com um tiro certeiro de baladeira, ver sua queda, esperar o impacto de seu corpinho minúsculo no chão é marca da verticalidade do voo? Quão aguda é essa imagem para a pedagogia que só quer o brincar sem a dor! Quão contundente o desejo deste menino que brinca e se diverte com a queda!


A queda também é lição de voo. Denota uma ausência. Aterra, agrava e fere o voo. Muitas vezes a caça, a agressão ao passarinho, sua queda de morte, tem uma força dinâmica mais real que as imagens do voo idílico e contemplativo da pipa sem o cerol. Passarinho ferido será obra de menino represado de imagens? Será manifesto agourento denunciando a inerte vida social, escolar? A casa, a família, o pai, a escola, o lugar, muitas vezes não alcançam a interioridade ascensional de uma criança. Julgam, duvidam, ironizam. Mas o poder de seta de sua imaginação não se acanha com a gaiola do círculo social, com a arapuca que é seu professor: quer o voo sem precedentes, o voo vertiginoso.


Certamente tudo isso dito tem possibilidades de incontáveis entendimentos. Tantos modos de se examinar. O Próprio estudo do ar nas brincadeiras é de muitos caminhos. Até agora, quis vos convidar para vermos as coisas das copas. Mas muito ainda precisamos ver. Pois mesmo só das copas do brincar examinamos muito pouco.


Mas confesso que meu coração muito forte grita quando se trata da arapuca escolar. Essa necessitamos desarmar com urgência. Ela de muito longe, não conhece a força de individualidade das crianças. Muito menos sua capacidade de transcendência no brincar. Sonho em um dia ver uma turba de meninos declararem abertamente o desmanche dessas gaiolas de educar.

Com sincera alegria,

Gandhy Piorski

Beira do Lado, 27 de setembro (lua de Cosme e Damião).

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