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  • Foto do escritorGandhy Piorski

A menina Ártemis: a deusa da lonjuta em Greta Thunberg

às meninas codorninhas Mirinha, Juju, Mari-Mari e Jajá


Uma vez nascido um deus, o mundo começa a mudar. Porém os deuses nunca nascem; eles renascem. E já era tempo de renascimento. O sol feminino de Ártemis se fez anunciar do apuro coletivo! Veio de uma região da terra já forjada outrora no PAGANISMO. Aquele onde, em tempos remotos, a religião era imanente à natureza. No Norte mais ao norte do mundo, Ártemis brotou em Estocolmo.

REBENTOU numa menina de nome Greta Thunberg! Menina que manifesta o estranho frescor dos que só se contentam com o essencial. Esses, na terra, são quase sempre considerados divinos. Estranheza que vem de um LONGE VITAL. Fernando Pessoa bem o manifesta:

“PASSA UMA BORBOLETA por diante de mim E pela primeira vez no universo eu reparo Que as borboletas não tem cor nem movimento, Assim como as flores não tem perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, No movimento da borboleta, o movimento é que se move, O perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta E a flor é apenas flor.”

Tal estado de lonjura nas palavras desse poeta Pessoa, só a sublime Ártemis alcança em plenitude. É do longe esse estado, retirante, distante do ferro ferino e do frio aço, vivente de regatos muito selvagens. Onde se encontra a seda natural, o zumbido que gesta mel, a cera pura e airada das colmeias livres. Lugares onde há águas de azuis tão azuis, que se vê a abundância da cor despregar do elemento líquido e flutuar, evanescendo em bruma por sobre a água.

Pura e estranha é Ártemis. Casta. Como casta é a vida selvagem. Lá a matéria transformada em ferramenta, o aço cortante dos interesses sociais, os acordos de sedução, não entram. É direta a via. Só dita pelo canto verdadeiro, de propósito, em prol da vida. Não há palavra vã; dizer é ato de criação.


A única deusa capaz de fazer sucumbir a sedutora Afrodite é Ártemis. Diante de seu poder triunfante de austera retidão, deusa de epítetos ascetas “rainha das rudes cordilheiras”(Ésquilo), “flecheira lépida”(Homero), “senhora das bestas selvagens” (Ilíada), Afrodite afrouxa seu espírito difuso, de pouca coesão. Ártemis é soberana inconfundível em seus domínios.

Castidade em Ártemis não é repressão da força criadora feminina, muito menos a imagem da boa moça recatada e confinada à hipocrisia dos misóginos. Casto em Ártemis é poder altivo, sóbrio e intocável da natureza. O feminino aqui é ascese habitante dos vales fundos coalhados de vida. Não a ascese magra e sucumbida dos fanatizados pela santidade. A asceta Ártemis é trigueira, veloz, corre com os filhotes dos lobos, ultrapassa o salto dos cervos, é feliz nas águas puras e precisa e viril em VESTAR seu arco impiedoso.

Vi, outro dia, a menina Greta falando no parlamento das Nações Unidas, um súbito choque me apanhou! Ouvi de mim uma voz: Ártemis renasceu! Mas logo outras tantas vozes se sobrepuseram: quem sou eu para saber da sublime deusa? De qual instância, daquilo que sou, me atreveria a tal anúncio? Quem dos deuses me chancelaria tal afirmação?

Nenhuma autoridade, nenhuma chancela, nenhum saber. Recorro apenas ao direito de fazer poesia. Correndo o sério risco de poeta não ser. E nesse direito que hora usurpo – e somente por ele - afirmo convicto: ouvi o anúncio! Ártemis renasceu!


A menina Greta, falando de lonjuras, mantendo uma abstinente distância do vício social humano, com a palavra comprometida em dizer unicamente o que deve ser dito - a palavra unida à criação - VESTOU SEU ARCO. Foi soberana diante da decrepitude dos políticos que fiam seus interesses e abandonam a vida.

Seu assumido AUTISMO é castidade da palavra, é linguagem consubstanciada de criação, força selvagem, direta, fulminante e poderosa. Ártemis pagã. Não quer popularidade. Não quer escola. Nem quer estudar o que não serve para fazer vida e refazer o mundo. Quer ação. Quer compromisso com a TERRA. Lugar para sua geração. E FAZ. Verga seu arco, lança suas flechas. E VIVE.

As CODORNAS, no antigo mundo grego, quando vinham aos bandos, em cardumes no céu, eram celebradas pelos Argivos (habitantes de Argos) como o retorno de Ártemis. Vinha Ela, a deusa, de longe, de um mundo intocável como nos diz Ésquilo sobre sua morada: “na várzea virgem, onde o zagau receia apascentar seu rebanho, onde nunca chegou o gume do ferro e somente a abelha voa zumbindo na primavera; reina aí a castidade”.

Vi na sexta feira passada (nas notícias) por obra da menina Greta, centenas de milhares de jovens (gigantesca manta de Codornizes a voar) em todo o mundo, andando, cantando, PREPARANDO SEUS ARCOS, para dizer que o tempo é da EXCELSA Ártemis.


A natureza, desde seus reclusos e intocáveis vales, FREMIU seu poder pelo feminino. Conclamou nada menos que os jovens e crianças do mundo para dizer da única e importante necessidade: O DIREITO À VIDA NA TERRA.

As codornizes voltaram! Ártemis renasceu.

A menina Greta que, numa crise de depressão, recebeu a unção bendita da liberdade ARTÊMICA, por nós desse tempo sem saber é diagnosticada como SÍNDROME DE ASPEN, AUTISMO. No entanto, nos gestos da menina flecheira, autismo é capacidade de alvo, precisão de propósito, olho que mira o chamejante silêncio.

O semblante sincero, sem jogo, uma presença simples, nua e índia. Um interesse uno, uma determinação parente dos rinocerontes, dos búfalos, das manadas de javali e das monarcas mariposas.

Já não sei mais quem disse na ONU, para os adultos políticos e gestores do mundo, se foi Ártemis ou a menina Greta Thunberg. Um vate divino de palavra depurativa:

“Vocês só falam em eterno crescimento da economia verde, porque vocês tem muito medo de serem impopulares. Vocês só falam em seguir a diante com as mesmas ideias ruins que nos colocaram nesta bagunça, mesmo quando a única coisa sensível que se deve fazer é apertar o botão de emergência. Vocês não são maduros suficiente para dizer do que realmente se trata. ATÉ ESTE FARDO VOCÊS DEIXAM PARA NÓS CRIANÇAS. Mas eu não me importo em ser impopular. Eu me importo com a JUSTIÇA CLIMÁTICA E UM PLANETA QUE VIVE. Nossa civilização tem sido sacrificada em benefício de uma quantidade muito pequena de pessoas para continuar fazendo quantidades enormes de dinheiro. Nossa biosfera está sendo sacrificada para que gente rica em países como o meu, possam viver em luxo. É o sofrimento de muitos que pagam pelo luxo de poucos.”

Greta, desde esses primeiros anúncios em parlamentos mundiais, segue inspirando, acordando jovens em todo o mundo. Faz-se solo, terra. Plantada está em seu propósito de PAZ.

A vida está renascendo! A deusa numa menina, quão gentil é o MISTÉRIO! Um feminino apolíneo. Talvez o mais belo! Uma monja de plagas bravias. Terrena em todo o seu ser. Incorporando o que é vital, envolvendo os novos da terra, dinamizando infâncias nucleares, erguendo vontades de larga alçada.

Mesmo que destruamos tudo, a vida vem vindo em TURBAS DE CODORNINHAS. É Ártemis chegando. O tempo da purificação.

O velho agoniza e urra EM TODOS NÓS, mostra garras. Acho que ainda insistirá em sua agonia. Mas precisamos aprender a VESTAR o arco.

Eis a boa nova: Ártemis é renascida!


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