Na casa que se sente pelo calor da cozinha, que recebe os amigos à mesa, que cultiva o encontro pelo fazer manual, pelo fogo e o sal, pelas ervas e os grãos, que pensa as refeições como quem cria, que prepara como um diário adubar, nessa casa, criança aprende sobre partilha, sobre a terra, sobre frutos, sobre estar, pertencer, habitar.
Em torno do fogo há sempre festa e encontro. Em torno do fogo há sempre uma memória, a presença de uma mãe que já se foi, uma avó, um vô padeiro, um tio conhecedor de sabores, um amigo pescador, um sentimento profundo trazido pelo ressumar do alecrim.
Os aniversários das crianças - nessas casas cônscias de que o amor espreita o cozinhar - começam nos preparativos, alguns dias antes. Preparar já vaporiza carinho e cuidado por todo lugar, os cheiros dos doces e salgados, as cores dos papéis que embalam.
As volatilizações de açúcares, únicas em nosso aniversário, cristalizam doçuras em nossos modos de habitar no tempo e AFORA dele
As cozinhas de nossas infâncias nos encrustam nas memórias de nossas gentes. Nos firmam no lugar em que os velhos, aqueles que eram jovens antes de nós, escolheram para cuidar, curar, nutrir, lavrar.
Casa preguiçosa de cozinha é casa escassa em se doar.
Venturosas são as crianças que crescem em torno do fogo, que com ele aprendem dos sonhos de transformar, servir e apurar.
Aprendizes do tempo pelas lições do PONTO!
Corre lá menino! Tá no ponto!...
Comentarios