do infinito
Mais do que a casa espacial, por minúscula que seja, ou imensa, mais do que o porão, a cozinha, o quarto ou qualquer aposento que queiramos incluir, existe, antes de tudo isso, a verdadeira casa.
A casa ser.
Quando o espaço da casa física, na nossa infância, nos aciona algum movimento, alguma descoberta, é, antes de tudo, por nos ter feito imaginar. O espaço evocou em nós um devaneio. Criamos, inventamos, exploramos o espaço, pela lavra depurativa da imaginação, do sonhar.
Só a criança, sonhando maior do que o mundo, assenhora o ser de seu lugar natal.
A consequência é que o espaço de nossa casa, repito, por minúscula que seja, não é desenhado em nossa memória e, muito menos, topografado em nós como um retrato fiel do espaço real vivido, mas ele é equalizado, tonalizado, sintonizado com o espaço de nosso ser interior.
A imaginação equaliza o meio externo, a casa real, à extensão incalculável do interior íntimo.
O espaço de nossa casa que nós capturamos em nossa memória, repito mais uma vez, uma choupana que seja, é transposto para a linguagem-memória do inconsciente.
Desde os primeiros gestos do bebê no solo de sua intimidade, no espaço sensorial de sua casa, o ser REDESPERTA para RETOMAR sua construção contínua da casa onírica. Construção infinita.
O ser não é biográfico. O ser é imemorial.
O catalizador das QUALIDADES ÍNTIMAS que ressonarão da casa real, para a casa onírica, mesmo que a casa real, repito insistentemente, seja debaixo da ponte, essa amálgama de repercussões constitutivas é a atmosfera gerada pelos cuidadores, é o carinho.
O carinho, a atenção amorosa, nos encalça na continuidade da jornada.
O ser não nasce no parto. O ser é da casa cosmos infinitesimal. Das grandezas infinitamente pequenas.
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