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  • Foto do escritorGandhy Piorski

Bestiário em Chico da Silva


Numa proposição de estudo para alunos da Escola de Artes de Sobral investigamos as pinturas do acreano radicado no Ceará, Francisco da Silva. Um mulato vindo menino do Acre que em Fortaleza viveu como pescador, no bairro do Pirambú. Bairro litorâneo de efervescências populares no campo dos movimentos sociais, trabalhos terapêuticos, psicologia comunitária, artes visuais, folclore, religiosidade. Já rolava arte de rua na década de 60 com Chico, seus pedaços de carvão e as paredes esquecidas do Pirambú. Apareceu o francês Jean Pierre Charbloz e deu-lhe cartolina e guache. O homem nunca mais voltou de seu mundo pictórico. Mundo ígneo. Mergulhou numa vertiginosa produção. Chico ganha expressão depois que Jean-Pierre Chabloz o descobre tracejando a carvão como um desenhista livre de calçadas e muros. Oferece-lhe as tintas e o papel. Seus traços ganham luz e o fazem notório com exposições em vários países da Europa.



O trabalho contagia jovens pintores e escultores que aderem à influência de sua linguagem e logo forma-se um movimento enraizado na narrativa de Chico. Movimento nascido dentro de seu ateliê com os coloristas que o auxiliavam. Pessoas que se diziam artesãos de suas cores. Esta efervescência ganhou corpo na década de setenta chegando a uma produção de 2.000 quadros por mês, com significativa influência em outras linguagens das artes visuais, inclusive sobre mestres da pintura cearense. Entretanto caiu em declínio por diversos fatores de interesse econômico (dos comerciantes de arte) e pela massiva retaliação da imprensa da época que não reconhecia o movimento como autêntico. Chico e sua escola foram e estão sendo, a cada dia, menos lembrados. O pintor do Pirambú e seus discípulos são pouco ou quase nada revisitados nas reflexões e produções contemporâneas.


Visitamos com os alunos, como programa de curso, as narrativas pictóricas de bestas em mares revoltos e lutas primordiais. Mundos que mais remetem ao acreano da floresta que saiu menino de sua terra do que ao pescador da claridade cearense. Desse estudo a moçada criou duas grandes figuras em três dimensões e as pintou a partir das referências de pontilhado do autor. Vejam no que deu.

Nosso projeto inicial era ocupar espaços públicos com diversas esculturas gigantes inspiradas na obra de Chico. No final das contas só rolaram duas, as que estavam no programa do curso, e as peças ficaram expostas apenas na Escola de Artes de Sobral.

O que isso tudo tem com as crianças? Talvez não muita coisa do ponto de vista dos brinquedos e brincadeiras. Mas como experiência estética elas adoram e muito se identificam com a luminosidade e as cores em dilúvio dos primitivos de Chico. Quanto aos traços do pintor, esses tem profundas marcas, nos grafismos e nos temas, de sua infância na floresta.


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